MAJOR SALES BRASIL

Leiam:
“Quem acordou não foi o Gigante, mas o monstro autoritário e violento. Fiquemos em casa hoje com o pequeno Hitler que vive em cada um de nós”
Os comentários abaixo são rebus sic stantibus, isto é, refletem o que estou captando agora. São conclusões parciais. Espero estar errado. Torço por isso.
Participei do momento dos Caras-Pintadas, no início dos anos 90. Tínhamos uma bandeira concreta: havia sérias e fundadas acusações contra Collor. Havia denúncia feita pelo próprio irmão, dando conta de atos de corrupção pessoalmente praticados pelo Presidente da República. Mas não havia depredações e agressões nas nossas manifestações. Pintávamos e celebrávamos a democracia exercendo nossa cidadania.
O filho de um amigo meu, de 12 anos, queria participar das manifestações de ontem. Os amigos da mesma idade disseram que ele teria que ir porque “como iria falar para os filhos dele que não participou?” E foi(-se). Ir por ir não quer dizer nada. Vivemos em uma época de liberdades públicas, mas não se conserta o país como quem leva um carro a uma oficina. “Desculpe o transtorno, estamos mudando o país”. Mudar para onde, se cada um, individualmente, quer levá-lo autoritariamente para um lugar diferente? “VEM PRA RUA QUE A RUA É A MAIOR ARQUIBANCADA DO BRASIL” Só que o jogo aqui é jogado por todos nós. E a primeira regra do jogo é respeitar a existência de regras. Não se faz democracia renegando-a. O movimento se extrema. Não se sabe os resultados. Em todo caso, quanto mais extremado, menor sua racionalidade e a capacidade de diálogo aberto e respeitoso. Se continuar nesse crescente, a Democracia estará em risco. E isso não tem nada de utópico.
Quem acordou não foi o Gigante, mas o monstro autoritário e violento. Fiquemos em casa hoje com o pequeno Hitler que vive em cada um de nós.
Via O Câmera

O
artigo que segue abaixo foi escrito pelo juiz Rosivaldo Toscano Júnior em seu
Blog. Na íntegra nós o reproduzimos aqui.
Leiam:
“Quem acordou não foi o Gigante, mas o monstro autoritário e violento. Fiquemos em casa hoje com o pequeno Hitler que vive em cada um de nós”
Os comentários abaixo são rebus sic stantibus, isto é, refletem o que estou captando agora. São conclusões parciais. Espero estar errado. Torço por isso.
Participei do momento dos Caras-Pintadas, no início dos anos 90. Tínhamos uma bandeira concreta: havia sérias e fundadas acusações contra Collor. Havia denúncia feita pelo próprio irmão, dando conta de atos de corrupção pessoalmente praticados pelo Presidente da República. Mas não havia depredações e agressões nas nossas manifestações. Pintávamos e celebrávamos a democracia exercendo nossa cidadania.
Os partidos estavam presentes porque
fazem parte do jogo democrático. Os trâmites constitucionais foram seguidos e
ele perdeu o cargo.
Esse movimento é diferente. É confuso,
caótico As bandeiras iniciais foram se dissolvendo em um caldo difuso e
contraditório. Fala-se na diminuição da carga tributária e, ao mesmo tempo,
no aumento dos investimentos sociais (a conta não vai fechar). No fim da
corrupção, mas, ao mesmo tempo, na deposição sumária de representantes eleitos,
o que constitui corromper a Democracia.
Ademais, o discurso anticorrupção é
feito sem uma reflexão sobre suas seculares causas estruturais. Vira um pleito
moralista, utópico, pueril, parcial e manipulável. E se deixa de lado a discussão
da tão necessária reforma política. A grande mídia, claro, investe nessa
fenda. Não vai querer perder a
oportunidade de pautar as massas. E se interdite a voz de quem discordar do
“discurso da verdade”.
Outra coisa. Não existe democracia sem
partidos. A última vez que dispensamos partidos foi durante a ditadura militar.
A formação democrática aqui é débil. Proibir a participação de partidos é
menosprezar a democracia. O fascismo é
assim, enxerga os opositores como inimigos e contra os inimigos vale tudo,
inclusive a força. Cenas de intolerância e vandalismo se acentuaram hoje em
São Paulo – contou-me o amigo Marcelo Semer.
Histeria. Triste ver o que ocorreu
em Brasília. O Itamarati não é a
Bastilha. Vi uma turba furiosa, caótica,
sem propósitos em frente ao prédio que não fosse o de destruí-lo. Se, por
um lado, foram proibidas as bandeiras dos partidos, as “bandeiras” simbólicas,
em boa medida, não estão obedecendo ao jogo democrático. Já que não dá (por
enquanto) para queimar o inimigo, queimar bandeiras é, simbolicamente, queimar
o espaço em que se permite a diferença.
“NÃO VOU NEM PRA DIREITA E NEM PRA
ESQUERDA, VOU PRA FRENTE”. Nada mais
ideológico (alienado) do que uma frase dessa. Vai-se, sempre,
ideologicamente, seguir um rumo, ainda que se pense que se está “indo em
frente”. Não. “Eles não sabem o que
fazem” (Zizek). Não existe um “ir pra frente” quando não se sabe o
referencial. Isso é utopia e toda utopia projeta a imaginação para fora do real
– em uma parte que é, também, parte nenhuma. Utopia (outro lugar) que é,
também, ucronia (outro tempo).
A maior debilidade da utopia: no instante em que se apresenta, abre as portas
para caminhos que podem ser piores do que os atualmente trilhados. Isso porque
a utopia é ausente de uma reflexão de caráter prático e político sobre suas
consequências na realidade existente e nas instituições – e do que Ricoeur
denomina de “o verossímil de uma época determinada”. É um salto no escuro.
Converte-se, então, em um tudo ou nada. O lado negativo da utopia, além do
risco de retrocesso, é o de fuga das possibilidades factíveis. O de ansiar por
uma realidade inverossímil e que, de tão distante ou irrealizável, impede os
avanços possíveis. Um discurso cético – de contestação concreta – é muito mais
realizável do que um niilista – de negação geral ou ruptura absoluta. Muitas
vezes a utopia é o álibi perfeito para se desconstruir alternativas possíveis.
Nesse sentido, é complementar e instrumental à ideologia no seu sentido
negativo e opressor.
O filho de um amigo meu, de 12 anos, queria participar das manifestações de ontem. Os amigos da mesma idade disseram que ele teria que ir porque “como iria falar para os filhos dele que não participou?” E foi(-se). Ir por ir não quer dizer nada. Vivemos em uma época de liberdades públicas, mas não se conserta o país como quem leva um carro a uma oficina. “Desculpe o transtorno, estamos mudando o país”. Mudar para onde, se cada um, individualmente, quer levá-lo autoritariamente para um lugar diferente? “VEM PRA RUA QUE A RUA É A MAIOR ARQUIBANCADA DO BRASIL” Só que o jogo aqui é jogado por todos nós. E a primeira regra do jogo é respeitar a existência de regras. Não se faz democracia renegando-a. O movimento se extrema. Não se sabe os resultados. Em todo caso, quanto mais extremado, menor sua racionalidade e a capacidade de diálogo aberto e respeitoso. Se continuar nesse crescente, a Democracia estará em risco. E isso não tem nada de utópico.
Quem acordou não foi o Gigante, mas o monstro autoritário e violento. Fiquemos em casa hoje com o pequeno Hitler que vive em cada um de nós.
*Rosivaldo Toscano dos Santos Júnior
é juiz de direito e membro da Associação Juízes para a Democracia – AJD
Via O Câmera
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