segunda-feira, 27 de agosto de 2012

ÓI MINHAS MÃOS DOTÔ

MAJOR SALES BRASIL
maos452345

Dotô, ói eu aqui! Óia pra eu por favor!!! Não quero tomar seu tempo não. Só peço que me ói, ói minhas mãos!

Já que o dotô pregunta, vô respondê: minha graça é Severino, seu criado! Sou casado, minha famia ficou lá em Fartura (tem esse nome porque farta tudo, e por isso é que tô aqui nessas suas terras). Faz mais de 6 meses que não vorto lá. A sardade da muié e dos mininus é grande. Quantu sãu? Sãu 9. É que agente casô cedo: eu tinha 17 e Lindarva 14, e nunca tivemu televisão; aí o dotô sabe ... Era quase um pu ano.



Minha idade? 33. O dotô me dá quantu? Outro dia, me perguntaru se eu tava perto de pedir aposentadoria, aquela do funrurá. Acho que tenho cara de mais de 50. É o só dotô; o só acaba agente; deixa assim a pele queimada, parecendo a de Pelé. É doutor, o só cria e também mata!

O dotô é gentil. Agradeço a atenção. Vô indo dotô! O carro dos bóia-fria tá indo. Obrigadu dotô!

E cá fica o Doutor. Viu que além de Severino, naquele carro tinham mais de 50. Homens que como o Severino deixaram outras Farturas onde vivem suas famílias para venderem as forças de suas mãos. Restaram-lhes as mãos. Mãos calejadas, mãos que denunciam a aspereza do ofício do campo.

O Doutor olha pra si. Sua pele é hidratada, e exala o perfume das cidades. Ver que além das mãos para a caneta, a academia lhe concedeu vagas de mercado. O diploma de curso superior abriu portas, deu-lhe mais acesso a uma maior fatia do bolo. O sol, para ele, certamente nasce todo dia sorridente.

Depois da safra, do trabalho temporão, Severino pode não voltar pra casa no momento imaginado. O gato era um aliciador, o patrão um ladrão dissimulado. É preciso intervenção do Estado, fazendo valer as leis e o bom-senso.

António Fabiano cofemac

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